The Night Manager marca a volta de Hugh Laurie à televisão. O ator britânico conta sobre o entusiasmo de protagonizar uma história original de John Le Carré, as dificuldades de interpretar Richard Roper (seu obscuro e perigoso personagem) e sobre seu sonho de interpretar Pine!
Há quanto tempo você se envolveu The Night Manager e o que foi que o atraiu para a história em primeiro lugar?
Eu me apaixonei por esse livro quando o li pela primeira vez em 1993. Eu adorava le Carré desde meu tempo de adolescente, mas achei esta história, em particular, infinitamente intrigante, poderosa e romântica, quase mítica. Embora eu não tenha absolutamente qualquer habilidade ou instinto para a produção, esta foi a primeira vez na minha vida que fui movido a tentar obter a opção para um livro. Pelo que me lembro, tentei obter os direitos mesmo antes de terminar o terceiro capítulo. Não fui bem-sucedido, é claro – o grande Sydney Pollock o havia agarrado e não o deixou escapar – mas o personagem de Pine (e sim, em 1993, eu descaradamente me imaginava no papel de Pine…) é fascinante: esse cavaleiro andante que percorre a terra procurando uma causa, uma bandeira pela qual lutar. Melhor ainda, pela qual morrer. Eu apenas a considerava uma belíssima história.
Dito isto, eu não posso exigir qualquer crédito por ter feito a coisa decolar. Eu apenas disse aos produtores que ficaria feliz em fazer qualquer trabalho na produção, como ator, fornecedor, qualquer coisa que eu pudesse para fazê-la andar – eu só queria estar envolvido com ela.
Esta é uma adaptação contemporânea do romance. De que maneira isso muda a história e se encaixa no nosso mundo de hoje?
Acho que é uma característica dos mitos que eles sejam de certa forma eternos. Histórias que aguentam serem contadas e recontadas a qualquer momento, em qualquer configuração. Normalmente eu diria que tentar tornar as coisas contemporâneas é uma missão para um louco, porque os eventos sempre o ultrapassarão. A história original envolvia um traficante de armas – Richard Roper, que eu interpreto – vendendo armas para os cartéis de drogas colombianos. E talvez os cartéis possam parecer menos ‘relevantes’ nos dias de hoje, mas um helicóptero do exército mexicano foi recentemente abatido pelos cartéis com um míssil terra-ar e o governo mexicano essencialmente admitiu que estava em guerra com uma força incrivelmente bem-amada e não tinha ideia de onde as armas estavam vindo. Le Carré colocou isso no papel e, 20 anos mais tarde, isso acontece. Em qualquer caso, transplantamos a história, que começa com a Primavera Árabe que teve início em 2010 (outro evento, a propósito, que ninguém esperava – a despeito de todos os satélites da CIA que circulam sobre as nossas cabeças – nenhuma organização de notícias ou agência de inteligência a previu), e trazê-la para os dias de hoje. O roteirista David Farr realizou um trabalho incrível de reinventar uma grande parte da história para acomodar um continente diferente e um conjunto diferente de eventos. Espero que tenhamos sido capazes de dar a ela uma espécie de frescor contemporâneo, mantendo alguma coisa daquela qualidade mítica.
Esta é uma produção épica. Você poderia nos contar um pouco sobre os locais que foram visitados?
Fomos para alguns lugares absolutamente de tirar o fôlego. Começamos na Suíça, em Zermatt. É uma coisa incrível abrir a janela do seu quarto e ver o Matterhorn olhando para você. Em seguida, passamos seis semanas em Marrocos, antes de filmar em Mallorca por cinco semanas. Não se passou um só dia sem um membro do elenco dizer: “Não posso acreditar que eu realmente esteja aqui fazendo isso”. Foi uma tremenda sorte interpretarmos personagens que vivem uma vida muito luxuosa estilo jet-set e isso significa que, para fazê-lo, temos de vivê-la. É uma vida dura…
No centro da história está a dinâmica entre Roper e Pine. Você poderia falar sobre essa dinâmica e a dinâmica entre você e Tom como atores?
O personagem Pine é uma alma perdida – acho que é uma das coisas que me chamaram a atenção quando comecei a ler o romance e continuam chamando a minha atenção sempre que eu o li desde então. Ele é nobre, corajoso, honrado e decente, mas procura uma causa, um propósito, e decide que enfrentará um inimigo que uma amante descreve como “o pior homem do mundo” – esta é a lenda de Roper e é isso que eu preciso tentar dar vida.
É uma história ambígua, na medida em que o objetivo original de Pine seja o de derrubar esse monstro, mas ao mesmo tempo ele tem que resistir o fato de que o monstro é – como muitos monstros são – atrativo, sedutor e encantador, que dá uma espécie de lógica, quase um glamour, às coisas do mal que faz. Há momentos em que Pine hesita à beira do lado escuro, quando você se pergunta para que lado ele vai. Você quer saber se Roper também hesita muito – talvez ele queira ser pego, queira ser traído. O público tem de julgar por si mesmo em que ponto Pine e Roper estejam próximos de cruzar a linha em direções opostas – onde Roper poderá mergulhar o punhal em seu próprio peito e onde Pine poderá se tornar exatamente aquilo que ele se propôs a destruir. Isso é o que eu quero dizer quando falo de uma luta mítica. É uma exploração absolutamente fascinante e encontro isso em muitas coisas escritas por Le Carré. Alguns o descrevem como um escritor de espionagem, mas suas histórias transcendem em muito a ideia de gênero; ele usa o mundo da espionagem e do business intelligence para examinar as mais profundas questões humanas. Espero que estejamos à altura!
Quando Roper encontra Pine na Suíça, algo nele parece atraí-lo e interessá-lo imediatamente – o que você acha que é?
Como poderia alguém não ser atraído por Tom Hiddleston? Eu acho que Roper, por toda a sua monstruosa vilania e conspiração, está à procura de um tipo de estética. Ele procura uma experiência maior que a de simplesmente ganhar dinheiro – um companheiro com quem possa compartilhar o seu prazer e triunfo, a viagem de tudo isso, a aventura, e acho que ele identifica em Pine alguém igual a ele, ou talvez uma versão de si mesmo. Pelo menos, ele vê alguém a quem possa legar seu império. Roper, na verdade, tem um filho jovem, interpretado pelo fantástico Noah Jupe (lembre-se desse nome!), mas acho que, se fôssemos seguir a história de Daniel, gostaríamos de descobrir que ele é bom demais, muito decente para ser capaz de seguir os passos do pai. Roper procura alguém com diabrura, alguém para compartilhar o prazer de sua vilania e, mesmo que Pine não seja um vilão, pelo menos ele está à deriva – afinal de contas, o diabo procura almas que não estejam ancoradas – e Pine definitivamente não está ancorado no início da história. Talvez, também, Roper veja uma forma de exploração, não apenas para seus próprios fins mecânicos, mas também para o seu divertimento. Penso que ele aprecie a companhia de Pine, a sua atitude. Roper escolhe com muito cuidado as pessoas que o rodeiam e acho que ele montou em sua mente uma espécie de corte real e vê em Pine um personagem adequado e conveniente que poderá aperfeiçoar a sua corte.
Roper trabalhou muito duro para manter Jed separada de seus negócios, e isso fica cada vez mais difícil à medida em que a história avança. O que você poderia nos dizer sobre essa relação?
Jed tem metade da idade de Roper – parece estar na essência dos homens ricos e bem-sucedidos rodearem-se de jovens e belas mulheres, e imagina-se que Roper tenha um passado bastante salgado nesse sentido. No entanto, ele e Jed já estão juntos há alguns anos quando passamos a acompanhar a história. Acho que eles sejam próximos, que haja uma genuína afeição entre eles, mas pode ser que Roper realmente precise dela para continuar a ser inocente – ele sente que, ao torna-la cúmplice de suas ações, estaria maculando exatamente aquilo que quer manter separado. Talvez, em algum nível, ele veja Jed como tendo algum tipo de poder redentor, precisamente porque ela não está envolvida. Ele pode ter um relacionamento mais puro e mais simples com ela, porque suas mãos não estão manchadas do sangue das coisas terríveis que ele fez – ou talvez sua inocência seja outro nutriente que ele possa consumir. Não sei e talvez ele tampouco saiba. Eu já deveria saber, mas muitas das perguntas desta história não possuem respostas fáceis e podemos vê-las de muitas maneiras diferentes. A complexidade de tudo isso é a que torna tão agradável.